quarta-feira, 29 de maio de 2013

Primavera?

Quarta-feira, 29 de Maio, dia #119:

As semanas de revisão para os exames já acabaram e os ditos cujos já começaram. O último dia letivo é 14 de junho, mas como eu não tenho exames, só essays para entregar, entro de férias na próxima terça-feira às 16h, quando tiver entregue meus dois últimos trabalhos que estão consumindo minha vida social.

No domingo consegui encontrar uns amigos, mas fomos para a biblioteca da universidade estudar, mas aprendemos uma triste lição: biblioteca em época de provas fica lotada até de madrugada. Éramos quatro, não conseguimos encontrar um cantinho sequer (com tomada para os notebooks) nos cinco andares do prédio mais legal da universidade.

Fomos acabar no pátio do Chancellors, o pub da universidade, sentadinhos ao ar livre numa das mesas de madeira de piquenique que tinha no parque do Zé Colmeia.

Só não era no meio da floresta e nem tinha tanta comida. Só kitkat e barras de granola.
Quando ficou frio - quando as nuvens encobriram o sol - entramos no pub e nos sentamos num dos sofás laranjas berrantes e o plano era emendar os estudos em algumas cervejinhas, mas a preguiça venceu e como domingo o ônibus é limitado, a noite estava chegando e ninguém estava apropriadamente agasalhado (primavera, cadê?), achamos melhor deixar os brindes para o final dos exames e continuar os estudos em casa.

Na segunda-feira, mais um dia lindo (e raro) de sol. Acordei cedo e aproveitei para ir ao Tesco comprar coisas básicas que estavam faltando na minha geladeira - leite, ovo, pão, iogurte, etc - e passear um pouquinho a pé, ver a natureza. Meu passeio começou bem, avistei um coelho fofinho logo que saí dos limites do Manor Park, mais um mamífero da fauna local que vejo desde que cheguei (os outros foram esquilos e camundongos). O coelhinho atravessou o estacionamento do Royal Surrey County Hospital e pulou no meio dos arbustos enquanto continuei minha caminhada até o mercado.

O caminho que até algumas semanas atrás estava abarrotado de narcisos amarelos por todos os lados agora é só um monte de grama verde e flores secas. Fiquei bem decepcionada. Minha ideia de primavera é que as flores desabrochavam e ficavam lindas até a chegada do inverno, quando eram cobertas de neve. Não esperava que morressem tão cedo. Talvez alguém que tenha prestado mais atenção às aulas de biologia do que eu tente me explicar que as plantas de clima temperado são diferentes das plantas de clima tropical, mas não vai adiantar, eu vou continuar querendo que as flores daqui durem mais. Porque elas são muito mais bonitas e alegram os dias nublados e chuvosos que vêm junto com a primavera. As pessoas sempre pensam primeiro em flores, mas chuva é que deveria ser sinônimo dessa estação do ano.

Mas eu já devia esperar por isso, afinal, dizem que Inglaterra é sinônimo de chuva.


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O post de hoje é meio deprê sim, poque enquanto eu não terminar esses trabalhos não vai dar pra sorrir muito.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

#110: São João em Maio

No sábado os brasileiros fizeram uma festa junina beeem antecipada. É que como as provas são no início de junho, todo mundo fica ocupado, e logo que acabam as provas... todo mundo foge pra viajar ou começar a estagiar. O jeito foi fazer a festa em maio mesmo.

Além das tradicionais bandeirinhas e todo mundo vestido mais ou menos à caráter (estampas de xadrez e flores dominaram), teve pipoca, cachorro quente, vinho doce e paçoquita, importada diretamente da loja de produtos brasileiros de Londres.

Também teve música típica e até improvisamos uma quadrilha, e em inglês, para que os colegas do Erasmus pudessem entender e brincar também. Foi uma noite divertida e mais um momento que deixei de documentar em foto, uma pena.

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No domingo passei o dia escrevendo um conto para minha aula de Contemporary Storytelling que tinha que entregar na segunda-feira, mas aproveitei o raro dia de sol para dar uma voltinha pelo Manor Park, explorando novos caminhos, apreciando a natureza e pegando um pouco de inspiração para colocar na minha história. Acho que funcionou.

sábado, 18 de maio de 2013

#109: Férias! Férias?

Ontem foi o último dia da décima segunda semana do semestre. Isto quer dizer que minhas aulas acabaram e eu estou de férias!

Mais ou menos. Ainda tenho trabalhos para entregar nos dias 28 de maio e 4 de junho. Mas depois de 4 de junho estarei oficialmente de férias!

Mas aí eu devo começar o estágio obrigatório do Ciência sem Fronteiras, que deverá durar três meses. Isto é, se a pessoa responsável por me arranjar um estágio conseguir cumprir esta tarefa, o que tem se mostrado algo muito difícil. E não posso fazer nada a não ser esperar uma resposta desta adorável e monossilábica funcionária da University of Surrey. O adorável foi ironia, caso não esteja claro o suficiente.

De qualquer forma, estou feliz de ter essas duas semanas livres, não só porque me dá bastante tempo pra trabalhar nas minhas essays, como me dá a oportunidade de passear mais pelos arredores, explorar a Inglaterra, ler meus livros e colocar em dia todos os seriados que estou acompanhando. E é claro, sair mais com os amigos - pelo menos os que não estiverem loucamente estudando para os exames finais, coisa que eu não tenho que fazer. Só tenho que escrever loucamente um total de 10.000 palavras, em duas semanas. O que é bem melhor do que ter que decorar o conteúdo de todo um semestre durante esse mesmo tempo e colocá-lo em palavras em algumas horas. Adoro o meu curso, nesse sentido.

A primavera tem se mostrado uma criatura perversa, que gosta de pregar peças nas pessoas. Num dia você acorda e o céu está azul, o sol está brilhando, você até sente o quarto mais quente pelos raios solares que aquecem sua parede do lado de fora e abre a janela para refrescar um pouco. No dia seguinte, o céu está nublado, a temperatura está perigosamente abaixo dos dez graus, o vento sopra loucamente e você não tem vontade alguma de sair da cama. E pra piorar, chove no meio da tarde. Ou então essas mudanças climáticas acontecem todas num mesmo dia e você se arrepende de ter saído sem um casaco ou sapato apropriado e de ter trazido o peso extra do guarda-chuva à toa.

Primavera, você pode ser muito cruel. Ou é só o clima britânico que, vamos combinar, adora brincar com nossas expectativas. Pelo menos não tenho mais que sair com várias camadas de roupas todos os dias. Bem, nem sempre. E agora são só duas camadas em vez de três.

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A semana passou correndo. Na segunda-feira (13/05) nosso grupo da aula de Film Industry (eu, J, C, outra brasileira, e Melanie, de Cingapura - em resumo, a comunidade intercambista da turma) apresentou o projeto de produção de filme de terror de baixo orçamento em que trabalhamos durante semanas. Tivemos que pensar desde a história do filme até campanha de marketing, passando pelo financiamento, planejamento do orçamento e distribuição. Foi trabalhoso, mas muito divertido. Nós quatro ficamos bastante amigas durante o processo.

Na quinta-feira tive uma reunião particular com Helen, a coordenadora do curso de Film Studies, também professora do módulo de cinema experimental e avantgarde. Ela elogiou minha apresentação sobre cinema dadaísta na aula anterior, me achou muito corajosa. Era pra eu apresentar um PowerPoint sobre algum tema estudado ao longo do semestre, eu escolhi o dadaísmo. Daí resolvi incorporar o espírito e não fazer uma apresentação tradicional: em vez disso, escrevi os tópicos do meu tema em pedacinhos de papel dobrados em um saquinho de tecido e sorteei na hora; conforme saíam os tópicos, eu ia falando os dados que tinha reunido. Funcionou, a professora gostou. Mas me aconselhou a não tentar uma performance parecida na minha essay, que dessa vez era melhor me ater ao tradicional.

Além de me dar ideias do que escrever para a essay final (ela percebeu que eu não estava dominando completamente o assunto que tinha escolhido), Helen me perguntou como eu estava na vida. O que estava achando das outras matérias, do curso e do intercâmbio em geral. E naquele momento, senti um afeto enorme pela minha professora maluquinha que usa a mesma roupa todos os dias e que encabeça e-mails importantes com um "AARgh, I forgot to tell you (...)" em vez de "Dear student, let me remind you of (...)" - fora o fato de ela ter assistido um filme do Andy Warhol de 8 horas de duração, NO CINEMA. E é claro, o fato de ela ensinar essa matéria e nos fazer assistir os filmes mais estranhos que existem no mundo ocidental.

Senti um enorme afeto por Helen porque tudo o que eu tinha desejado a semana inteira era que alguém se preocupasse comigo; demonstrasse carinho e cuidado. Porque eu estava me sentindo tão frágil, tão perdida, tão sozinha. Desamparada. E então minha coordenadora demonstrou interesse na minha vida. Interesse em saber se eu estava bem. Me estendeu a mão. 

E sim, eu sei que estou sendo piegas. E a pieguice não acaba aí.

Aceitei a mão de Helen e contei tudo o que estava se passando comigo naquela semana. Disse o quanto eu estava com saudade de casa, e como me sentia desajustada às vezes, mesmo quando incluída nos grupos (dos brasileiros, da Stag TV). E ela me ouviu. E me deu conselhos. Me sugeriu procurar novos grupos de maneiras diferentes; me incentivou a explorar a cidade e frequentar lugares em que eu possa encontrar almas parecidas com a minha (bibliotecas, livrarias, cafés, teatros e cinemas). Disse que o estágio seria ótimo pra mim, porque eu estaria com as mesmas pessoas todos os dias e acabaria interagindo com elas. E disse também que ia ficar tudo bem.

Tudo isso pode parecer muito simples, até bobo. As sugestões dela são até meio óbvias. Mas só o fato de ela me deixar à vontade para me abrir, se mostrar interessada pelas questões que afligem meu coração... só esse cuidado que ela demonstrou ter comigo, me fez sentir bem melhor. Levantou meu ânimo, me fez sair de cabeça erguida e enxergar o céu azul acima das nuvens. Aquela conversa foi uma das melhores coisas que me aconteceu nessa semana.

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Sexta-feira foi o dia de botar ordem na casa. Abasteci a geladeira e a dispensa, comprei um filtro de água (chega de gastar dinheiro com água no mercado ou de beber água pesada da torneira!); lavei meus lençóis e toalhas; e fiz um bolo de iogurte (receita da minha amiga Lu), pra comer assistindo How I Met Your Mother pela madrugada adentro.

domingo, 12 de maio de 2013

103 dias de Surrey

Uau. Passei da marca dos três meses e nem percebi. O tempo voa, o tempo voa.

Depois de férias bem curtidas, a retomada das aulas. Só mais um mês e acabou o semestre. E maio já está chegando à metade.

Nas últimas três semanas, muitas coisas interessantes aconteceram. A mais impactante foi quando minha amiga J. acidentalmente se cortou com uma faca enquanto cozinhava e precisou ir ao hospital. Eu fui a primeira pessoa para quem ela ligou pedindo ajuda, e eu estava fazendo minhas compras de mês no Tesco. Levei o carrinho incompleto ao caixa e voltei direto para o Manor Park para ajudá-la. Conseguimos ajuda do segurança do campus para chegar ao hospital (felizmente, não muito longe), porque ela tinha perdido bastante sangue e estava fraca. Mas não passou de um susto, nem precisou dar pontos. Nesse dia eu aprendi algumas coisas: 1) nunca use uma faca para abrir um pacote, existem tesoura para isso; 2) é muito importante ter todos os números de emergência gravados no celular; 3) eu sou uma amiga com quem se pode contar caso você se acidente e precise de ajuda. Embora eu tenha ficado um pouco nervosa com a situação, consegui contornar bem e senti um orgulho bobo por ter sido a primeira pessoa em quem minha amiga pensou quando precisou de ajuda. É bastante responsabilidade ser o contato de emergência de alguém.

Na semana seguinte foi a vez da Lu vir me visitar. Passeamos em Londres - vimos exposições na National Portrait Gallery e no Tate Modern - , comemos fish and chips, compramos comidas saudáveis - as quais ela cozinhou - , passamos um dia em Windsor e nos maravilhamos nos lindos jardins primaveris de Buckingham.


Na semana passada tive uma infecção de garganta e os dias voltaram a ser nublados e frios. Só fiquei em casa e fiz trabalhos da faculdade.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Retorno à rotina

Quando as aulas foram retomadas no dia 22 de abril, me dei conta de que o semestre não demoraria muito a acabar. Meus trabalhos finais estavam marcados para meados de maio e no máximo para a primeira semana de junho. Abril se acabou em uma semana e meia, e o mês de maio só faz encurtar. Contabilizei 7 trabalhos para 4 matérias. Fora todas as leituras necessárias para a elaboração de todas os textos e apresentações que precisarei fazer. Não vai ser fácil.

Mas ao mesmo tempo, já passei por esse tipo de situação muitas vezes ao longo dos meus 4 (and counting!) anos de faculdade. E não eram 4 matérias, eram 7, 8, que eu costumava fazer no Brasil. E eu também tinha um semestre inteiro para fazer mas acabava deixando tudo para o final, como uma boa amante de adrenalina. E além disso, o Jornalismo me ensinou que não importa o quão curto é o deadline, a gente sempre consegue dar conta de tudo dentro do prazo. E dar conta sem que fique uma porcaria.

E se as próximas semanas parecerem muito obscuras e assustadoras, eu terei a primavera para me inspirar. Nenhum lugar é mais convidativo para leituras do que os verdes gramados sob o sol que começa a ficar mais forte. Um hábito inglês ao qual me habituei muito rápido: desfrutar de todo e qualquer pedacinho de sol e natureza que o dia tiver para oferecer. E por mais que os 20 graus positivos e as flores e os dias lindos de sol continuem por mais três meses, já estou melancólica pela volta do frio no fim desse período. Só me resta apreciar o sol enquanto ele estiver aqui pra me aquecer.



Fotos tiradas no Guildford Castle, 03/05/2013