Mais ou menos. Ainda tenho trabalhos para entregar nos dias 28 de maio e 4 de junho. Mas depois de 4 de junho estarei oficialmente de férias!
Mas aí eu devo começar o estágio obrigatório do Ciência sem Fronteiras, que deverá durar três meses. Isto é, se a pessoa responsável por me arranjar um estágio conseguir cumprir esta tarefa, o que tem se mostrado algo muito difícil. E não posso fazer nada a não ser esperar uma resposta desta adorável e monossilábica funcionária da University of Surrey. O adorável foi ironia, caso não esteja claro o suficiente.
De qualquer forma, estou feliz de ter essas duas semanas livres, não só porque me dá bastante tempo pra trabalhar nas minhas essays, como me dá a oportunidade de passear mais pelos arredores, explorar a Inglaterra, ler meus livros e colocar em dia todos os seriados que estou acompanhando. E é claro, sair mais com os amigos - pelo menos os que não estiverem loucamente estudando para os exames finais, coisa que eu não tenho que fazer. Só tenho que escrever loucamente um total de 10.000 palavras, em duas semanas. O que é bem melhor do que ter que decorar o conteúdo de todo um semestre durante esse mesmo tempo e colocá-lo em palavras em algumas horas. Adoro o meu curso, nesse sentido.
A primavera tem se mostrado uma criatura perversa, que gosta de pregar peças nas pessoas. Num dia você acorda e o céu está azul, o sol está brilhando, você até sente o quarto mais quente pelos raios solares que aquecem sua parede do lado de fora e abre a janela para refrescar um pouco. No dia seguinte, o céu está nublado, a temperatura está perigosamente abaixo dos dez graus, o vento sopra loucamente e você não tem vontade alguma de sair da cama. E pra piorar, chove no meio da tarde. Ou então essas mudanças climáticas acontecem todas num mesmo dia e você se arrepende de ter saído sem um casaco ou sapato apropriado e de ter trazido o peso extra do guarda-chuva à toa.
Primavera, você pode ser muito cruel. Ou é só o clima britânico que, vamos combinar, adora brincar com nossas expectativas. Pelo menos não tenho mais que sair com várias camadas de roupas todos os dias. Bem, nem sempre. E agora são só duas camadas em vez de três.
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A semana passou correndo. Na segunda-feira (13/05) nosso grupo da aula de Film Industry (eu, J, C, outra brasileira, e Melanie, de Cingapura - em resumo, a comunidade intercambista da turma) apresentou o projeto de produção de filme de terror de baixo orçamento em que trabalhamos durante semanas. Tivemos que pensar desde a história do filme até campanha de marketing, passando pelo financiamento, planejamento do orçamento e distribuição. Foi trabalhoso, mas muito divertido. Nós quatro ficamos bastante amigas durante o processo.
Na quinta-feira tive uma reunião particular com Helen, a coordenadora do curso de Film Studies, também professora do módulo de cinema experimental e avantgarde. Ela elogiou minha apresentação sobre cinema dadaísta na aula anterior, me achou muito corajosa. Era pra eu apresentar um PowerPoint sobre algum tema estudado ao longo do semestre, eu escolhi o dadaísmo. Daí resolvi incorporar o espírito e não fazer uma apresentação tradicional: em vez disso, escrevi os tópicos do meu tema em pedacinhos de papel dobrados em um saquinho de tecido e sorteei na hora; conforme saíam os tópicos, eu ia falando os dados que tinha reunido. Funcionou, a professora gostou. Mas me aconselhou a não tentar uma performance parecida na minha essay, que dessa vez era melhor me ater ao tradicional.
Além de me dar ideias do que escrever para a essay final (ela percebeu que eu não estava dominando completamente o assunto que tinha escolhido), Helen me perguntou como eu estava na vida. O que estava achando das outras matérias, do curso e do intercâmbio em geral. E naquele momento, senti um afeto enorme pela minha professora maluquinha que usa a mesma roupa todos os dias e que encabeça e-mails importantes com um "AARgh, I forgot to tell you (...)" em vez de "Dear student, let me remind you of (...)" - fora o fato de ela ter assistido um filme do Andy Warhol de 8 horas de duração, NO CINEMA. E é claro, o fato de ela ensinar essa matéria e nos fazer assistir os filmes mais estranhos que existem no mundo ocidental.
Senti um enorme afeto por Helen porque tudo o que eu tinha desejado a semana inteira era que alguém se preocupasse comigo; demonstrasse carinho e cuidado. Porque eu estava me sentindo tão frágil, tão perdida, tão sozinha. Desamparada. E então minha coordenadora demonstrou interesse na minha vida. Interesse em saber se eu estava bem. Me estendeu a mão.
E sim, eu sei que estou sendo piegas. E a pieguice não acaba aí.
Aceitei a mão de Helen e contei tudo o que estava se passando comigo naquela semana. Disse o quanto eu estava com saudade de casa, e como me sentia desajustada às vezes, mesmo quando incluída nos grupos (dos brasileiros, da Stag TV). E ela me ouviu. E me deu conselhos. Me sugeriu procurar novos grupos de maneiras diferentes; me incentivou a explorar a cidade e frequentar lugares em que eu possa encontrar almas parecidas com a minha (bibliotecas, livrarias, cafés, teatros e cinemas). Disse que o estágio seria ótimo pra mim, porque eu estaria com as mesmas pessoas todos os dias e acabaria interagindo com elas. E disse também que ia ficar tudo bem.
Tudo isso pode parecer muito simples, até bobo. As sugestões dela são até meio óbvias. Mas só o fato de ela me deixar à vontade para me abrir, se mostrar interessada pelas questões que afligem meu coração... só esse cuidado que ela demonstrou ter comigo, me fez sentir bem melhor. Levantou meu ânimo, me fez sair de cabeça erguida e enxergar o céu azul acima das nuvens. Aquela conversa foi uma das melhores coisas que me aconteceu nessa semana.
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Sexta-feira foi o dia de botar ordem na casa. Abasteci a geladeira e a dispensa, comprei um filtro de água (chega de gastar dinheiro com água no mercado ou de beber água pesada da torneira!); lavei meus lençóis e toalhas; e fiz um bolo de iogurte (receita da minha amiga Lu), pra comer assistindo How I Met Your Mother pela madrugada adentro.
Sabe, Luiza, não teve nada de bobo nos conselhos que a Helen te deu. Nada de piegas e nada de óbvio. Ela te ouviu, ela te disse palavras amigas e demonstrou atenção pelo que vc dizia. Isso é tudo que precisamos na maioria das vezes em que estamos tristes/cansados/sozinhos. Já comentei por aqui outras vezes e acho que disse que morei um tempo fora de casa, em outro estado. Minha família no nordeste e eu no sul do Brasil; não foi nada fácil, mesmo sendo no mesmo país. Entendo tão bem essa melancolia que se agrava principalmente nos dias cinzas (a maioria, né). Mas encontrar um ombro amigo, ainda que inesperado, realmente levanta nosso ânimo, dá uma boa renovada na gente. E quando vc voltar, a saudade de Surrey vai ser enorme também, e vc vai até ter dificuldades de entender porque é que sentia tanto a falta de casa. Somos assim, seres complexos e difíceis de entender. O melhor que eu posso te dizer é que a saudade passa, e vc sempre pode mandar um e-mail, falar pelo skype, escrever uma carta.... Mas os momentos não voltam, então aproveite tudo enquanto pode.
ResponderExcluirSe possível, procure fazer tudo que não conseguiria fazer aqui no BR com muita facilidade. Quando vc menos esperar, acabou-se a estadia por aí... Incrível mesmo é como o tempo passa e nem nos damos conta!
Beijos!