segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

#10 Uma noite de roupa suja e música

Na quinta-feira à noite os brasileiros começaram a planejar uma viagem à Londres para curtir o carnaval na boate brasileira Guanabara na noite de sexta-feira. Quem chegasse antes das 20h entrava de graça na boate. A ideia era pegar o trem de Guildford a Londres por volta das 17h, ir para a festa, dormir em algum albergue por lá, passar o sábado inteiro passeando pela cidade e voltar no último trem da noite. Era um bom plano.

Sexta-feira acordo ao meio-dia porque não tenho aula, mas já começo a me desesperar com o pouco tempo que tenho até a viagem. E tinha combinado com Bethany de lavar roupa quando ela voltasse da aula, por volta das 15h30.

Resolvi finalmente tentar cozinhar alguma coisa que não ficasse pronta em 3 minutos e coloquei uma água pra ferver pro meu macarrão. Os legumes estavam me chamando na geladeira mas eu ainda não me sentia pronta para prepara-los. A hora deles ia chegar um dia.

O macarrão estava saindo direitinho, mas quando chegou a parte de jogar a massa escorrida de volta na panela pra refogar ao alho e óleo... Onde estava o alho? Eu tinha azeite na panela, mas tinha esquecido de comprar alho. Lembrei que minha companheira de flat brasileira tinha feito macarrão no dia anterior e ela tinha alho. Abri seu armário, tirei um dente e deixei um bilhetinho avisando do empréstimo. Piquei um pouco do dente de alho, joguei no azeite, começou a fritar, joguei o macarrão, o sal e o orégano. Pra completar, fiz um ovo mexido. O macarrão ficou meio sem sal, mas pelo menos a refeição foi preparada com calma e sem surpresas.

Almocei, comecei a arrumar a mochila com uma muda de roupa pra mini viagem, a pensar em que roupa ia sair para um carnaval brasileiro em Londres num frio de 0 graus. Tudo isso antes das três da tarde. Tomei logo meu banho para poder colocar as toalhas no cesto de roupa suja, porque ainda estava esperando Bethany aparecer para me ensinar a mexer na máquina de lavar.

Tomei banho e voltei para o dilema da roupa. Quatro da tarde e nada de Bethany. No grupo do Facebook, alguns brasileiros começavam a desistir. Ainda tínhamos que reservar os quartos no albergue, mas ninguém mais se manifestava. De repente, das dez pessoas que confirmaram ir para Londres na noite anterior, só cinco mantinham a viagem de pé. E já era quase 17h.

Desisti da viagem também. Tudo foi decidido muito em cima da hora, eu não tinha nada pronto, não tinha reserva no albergue, não conhecia o trem para Londres ainda. E o argumento dos que desistiram começou a fazer sentido: era de fato bastante dinheiro pra gastar logo no segundo fim de semana, ainda mais considerando tudo o que eu já tinha gasto comprando travesseiro, edredom, panela, etc. Desisti e não me arrependi. Carnaval é bom mas tem todo ano, e esse não seria o primeiro nem o último que eu perderia. Certamente alguma coisa melhor eu arranjaria pra fazer na sexta à noite.

Por volta das 17h, Bethany bate à porta do meu flat pedindo desculpas pelo atraso, teve que resolver alguns problemas com a companhia do celular. Peguei meu cesto de roupas, o sabão em pó e o amaciante e rumamos para uma das lavanderias do campus, a maior, que tem sofá, televisão e mesa de ping-pong.

Antes de mais nada tive que colocar duas libras numa máquina para emitir um cartão com chip, o qual eu usaria para pagar minhas lavagens. Enchemos as máquinas com nossas roupas e Bethany pagou a minha primeira lavagem (2 libras). Voltamos para o meu quarto, entrei no site da empresa que opera as máquinas de lavar, me registrei, carreguei meu cartão com 10 libras (que viraram 12, não entendi por quê), voltamos à lavanderia, coloquei o cartão em uma outra máquina, digitei o código que recebi online e meus créditos foram habilitados.

Nisso já tinha passado a meia hora necessária para lavar as roupas. Colocamos na secadora, e voltamos para nossos respectivos quartos para voltar 50 minutos depois. Nesse meio tempo descobri o que as pessoas que tinham desistido de ir a Londres iam fazer naquela noite. Alguns iam para um pub, outros para uma balada, outros para um jantar multicultural dos intercambistas num dos alojamentos do Stag Hill Campus. Fiquei com a terceira opção.

Voltei na lavanderia, busquei minhas roupas, me arrumei e desci para a recepção do Manor Park para encontrar um menino que ainda não tinha ido para o jantar. Passamos na Tesco por volta das 21h, compramos uma garrafa de vinho para contribuir com o jantar e caminhamos até o alojamento, que era mais próximo do mercado que os outros prédios de aula do Stag Hill. Foi fácil encontrar o lugar da festa, pois tinha gente do lado de fora conversando e fumando. Subimos junto com outro brasileiro que nos recebeu na porta e entramos na cozinha do alojamento, onde uma multidão estava reunida. Todos estudantes de intercâmbio do ano de 2013 de diferentes países: Estados Unidos, Canadá, Itália, França, Finlândia, Brasil, Alemanha e claro, alguns do Reino Unido também.

Conversei por horas com a francesa Laurianne, que estuda língua e civilização inglesa aqui, então falamos muito sobre literatura.

Lá pela uma da manhã algumas pessoas foram embora, mas a festa foi transferida da cozinha para o Quiet Centre, um espaço destinado para meditações, manifestações religiosas coletivas e que envolvam instrumentos musicais e, quando todos estão dormindo, estudantes que querem fazer música sem incomodar ninguém. Este espaço fica no alto de uma pequena colina dentro do campus, e no caminho até ele passamos por vários jardinzinhos que devem ficar lindos na primavera.

Fizemos uma roda em torno dos músicos (dois gregos, um francês, dois ingleses, um italiano e um brasileiro), sentados ou deitados no chão acarpetado da sala circular, assistindo e ouvindo improvisos de blues e entoando algumas canções da bossa nova (só os brasileiros, mas os outros gostaram).

A noite terminou às três e meia da manhã com promessas de mais encontros harmoniosos. Fui dormir cansada mas tranquila, porque o dia seguinte era sábado e eu poderia enfim descansar da longa semana cheia de novidades.





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