A universidade estava completamente deserta e tive dificuldade em encontrar o caminho até a biblioteca sem passar no meio dos prédios, como sempre faço, porque sendo fim de semana estavam todos trancados. Mas eventualmente achei meu caminho quando resolvi seguir um menino asiático que tinha saltado do ônibus junto comigo.
Chegando lá, subi o primeiro lance de escadas e passei pela catraca da biblioteca com meu carteira de estudante. Bem, por onde começar? Eu já tinha buscado no catálogo online pelo livro que precisava (The Contmporary Hollywood Film Industry, by Paul McDonald and Janet Wasko) e sabia que haviam dois disponíveis para empréstimo de uma semana e um para empréstimo de um dia. Mas eu ainda não tinha encontrado as estantes, só várias salas com mesas, máquinas de xerox, computadores e estudantes quietos. Resolvi pedir ajuda.
A funcionária da biblioteca foi muito simpática e me mostrou como era o sistema de organização. Pediu o nome do livro que eu procurava e encontrou o número de catalogação dele e pediu que eu anotasse. Anotei a seguinte sequência: 334.809794940/CON
Para me adiantar a busca, a funcionária me disse que eu encontraria meu livro no quarto andar, era só pegar o elevador "atrás daquela parede". Agradeci e me dirigi até a parede que ela me indicou. Mas não vi elevador, só uma saída de incêndio que dava num lance de escadas. Dei meia volta, contornei a área das copiadoras e me encontrei novamente no saguão principal. A mulher simpática já não estava mais lá. Em frente à escada central que subi, tinha um elevador, devia ser aquele. E aí comecei a me sentir num quadro de Escher.
Entrei, mas não tinha quarto andar, parava no terceiro. Bem, talvez houvesse uma outra escada por lá. Subi, mas vi que não tinha para onde ir no terceiro andar, só ficar na escada. As portas de vidro estavam todas fechadas. Voltei para o elevador, mas ele não queria descer. Desci as escadas e me encontrei novamente no segundo andar, em frente ao saguão principal da biblioteca, com as catracas. Resolvi entrar novamente e seguir até uma sala ao fundo, onde tinham computadores.
Encontrei a estante de empréstimos de um dia, e bem mais ao fundo, um elevador! Pronto, era esse, mas não estava atrás da parede que a mulher tinha me indicado. Bem, entrei e descobri que a biblioteca tem 5 andares, embora só três sejam visíveis pela entrada principal. Apertei o 4 e subi.
Quando saí, aí assim reconheci uma biblioteca: estantes de livros por toda parte. Olhei os números que tinha anotado. Os primeiros dígitos, 33, estavam indicados na estante de Economia. Estranhei, mas já que era um livro sobre indústria cinematográfica, às vezes tinha alguma coisa a ver. Bom, certamente esse livro continha muitos números.
Vasculhei as estantes, livro a livro, olhando os números, os títulos, até ficar tonta. Encontrei um livro que tinha a primeira parte da sequência (3348) igual, mas ao lado dele não havia mais nenhum que seguisse essa ordem. E todos eram claramente livros de economia - economia de vários países, em vários períodos, em várias línguas. Mas nada de cinema, nada de Hollywood.
Minha cabeça girava e tudo o que eu queria era deitar no chão acarpetado entre as estantes e descansar. Estava tudo tão vazio e silencioso, acho que se eu tivesse morrido de exaustão ali, iam demorar a me encontrar. Mas de repente me lembrei de minha amiga Jordana que já tinha alugado o livro. Peguei meu celular (viva wi-fi!) e mandei uma mensagem perguntando onde ela tinha encontrado o livro. Ela não se lembrava, mas disse que tinha sido no 4º andar, numa prateleira "quase no chão", junto de outros livros sobre Hollywood. Passei a vasculhar todas as prateleiras próximas do chão da seção de economia, mas tudo o que consegui foi dor nas costas. Eu já tinha decorado a sequência numérica de tanto que a procurava. Aqueles números estavam me dando dor de cabeça. Eu queria desistir.
Desisti. De procurar sozinha. Voltei para o primeiro andar (ou o segundo, já nem sei mais) e perguntei a uma outra funcionária onde poderia encontrar meu livro. Disse que já tinha procurado por toda parte e não tinha encontrado. Ela perguntou o nome do meu livro, eu disse, ela anotou o número em um papel e pediu para uma outra funcionária que passava para me levar até lá. Era a mesma senhora que tinha me atendido antes. Ela olhou para mim em choque e disse "Você ainda não encontrou seu livro?! Mas você está aqui há horas!" Expliquei minha inabilidade e ela, muito piedosamente, me conduziu ao esclarecimento.
Primeiro passamos nas primeiras estantes ainda neste andar, dos empréstimos de um dia. Quando ela recitou os números, procurando pela posição do livro que eu queria, percebi o que tinha acontecido. Vislumbrei o número no papel que ela levava: 384.80979494/CON.
384. E não 334.
Eu estava procurando no lugar errado o tempo todo. Com o número errado o tempo todo. Não sei se anotei errado ou se a caneta falhou na hora e por isso meu 8 ficou parecendo um 3. Só sei que com aquele número eu não ia achar o livro mesmo. Nunca.
Encontramos o livro da coleção de empréstimos de um dia, mas a senhora solícita quis me mostrar os de 7 dias. Me conduziu por uma porta de incêndio, onde tinha um outro elevador (o tal atrás da parede que eu não fui capaz de encontrar) e chegamos no 4º andar pelo outro lado. Lá, ela foi direto na seção de Turismo e Antropologia, e com uma assertividade de bibliotecária, tateou na prateleira mas próxima do chão pelo meu livro. Me abaixei para ajuda-la e vi que ali realmente tinha uma coleção de livros só sobre Hollywood. Não na seção de Economia.
Mas o livro que eu precisava ainda não estava ali. Então ela me levou até uma outra estante, enorme, destacada de todas as outras, onde ficam os livros que as pessoas retiram do lugar ou então que não cabem aonde deveriam estar. E lá estavam duas cópias do livro de McDonald e Wasko. Não sei quantas vezes agradeci àquela mulher tão solícita, tão simpática, tão adorável. Ela me deu um sorriso, me estendeu o livro e disse que eu voltasse ao andar principal e pedisse ajuda de alguém para alugar o livro.
Desci, encontrei um terceiro funcionário que mal me dirigiu a palavra, só me mostrou a máquina de empréstimos e o que fazer com ela. A máquina parece um caixa eletrônico, com uma tela sensível igual aos caixas de dinheiro. Coloquei o código de barras da minha carteira de estudante sob o laser vermelho, pus o livro sobre uma superfície com sensor, apertei um botão na tela e saiu um ticket indicando o meu nome, meu número de estudante, o nome do livro, a data de empréstimo e a data de devolução. Muito moderno.
Voltei pra casa, já eram 16h-17h. Preparei legumes ao vapor (congelados, só colocar no micro-ondas por 3 minutos) e nuggets de peixe (dessa vez descongelei no micro-ondas e depois joguei na frigideira) para meu almoço/janta. Ficou bem gostoso.
Passei o resto da noite estudando e lendo os primeiros capítulos do livro para a aula de segunda-feira.
Domingo:
Dia de faxina. Lavei banheiro, passei aspirador no quarto, arrumei a cama e guardei as roupas espalhadas pelo quarto. Estudei e li mas. Comi macarrão com legumes. E foi só isso. :)
uau! que sonho de biblioteca (5 andares!!!) e esse 'caixa eletrônico"! : )
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