Quarta-feira, 06/02/2013.
Nenhuma aula hoje, mas fui à universidade para me registrar na polícia. É assim: porque vou morar no Reino Unido por um ano, eu me registro e ganho uma espécie de carteira de identidade daqui. Um documento oficial para substituir o passaporte, que pode então ficar bem guardadinho em casa dentro de uma gaveta - afinal, ninguém quer perder esse documento por aí e enfrentar as consequências. Em sete dias deve chegar pelo correio minha nova identidade temporária.
Onze e meia da manhã e eu não tinha mais nada programado para o resto do dia. Peguei o ônibus (já tinha pego meu bus pass no dia anterior, que me permite pegar quantos ônibus quiser em Guildford pelos próximos 365 dias), desci no meio do caminho para casa e fui em direção à Tesco, o supermercado amigo dos estudantes de Surrey, também conhecido por vender carne de cavalo em vez de carne bovina.
Rodei todos os corredores explorando tudo o que tinha para encher a minha geladeira e meus armários da cozinha. Comprei maçãs, pão, queijo, macarrão, temperos, legumes congelados (!!), salsicha de frango, carne de hambúrguer (de boi, espero), leite, suco, lenços de papel. Uma panela grande (até agora vinha usando uma que a Bethany me emprestara, mas já estava na hora de devolver), um ralador (para dividir com os colegas brasileiros, um dos quais já tinha comprado escorredor de macarrão).
Me dirijo ao caixa, feliz com as compras que devem durar algumas semanas, e quando começo a guardar os itens nas sacolas plásticas, percebo o volume generoso que terei que carregar de volta pra casa. Seis sacolas. Três em cada braço, vai ser fácil. Mas eram seis sacolas pesadas. Bem pesadas.
Respirei fundo, peguei minhas sacolas e saí do mercado, atravessando o estacionamento para chegar do outro lado da calçada. Que sacrifício! De repente faz sentido porque mamãe sempre pede para o mercado entregar as compras em casa. Chegando na calçada, larguei as sacolas no chão, respirei, esperei. Algumas pessoas passavam ao meu lado, olhavam minhas sacolas e simplesmente seguiam. Nenhuma oferta de ajuda. Tudo bem, eu sou forte e jovem, eu consigo. Peguei as sacolas novamente (lembrando: vestindo um casaco pesado que me deixava com poucos movimentos e tendo que lidar com o vento gélido na cara. E sem luvas.).
Consegui contornar o enorme gramado que tem entre o estacionamento do Tesco e a avenida que leva até o Royal Surrey Hospital e também ao Manor Park e parei na calçada, tentando descobrir o melhor jeito de atravessar. A faixa de pedestres estava longe, o que significava mais tempo de sofrimento para chegar nela. Vi algumas pessoas tentando atravessar onde eu estava (a avenida é de mão dupla, com uma "ilha" no meio separando a faixa dupla) e as segui, na cara e na coragem. Ajuda muito o fato dos motoristas serem educados e pararem quando veem pedestres tentando atravessar a rua. Sobrevivi. Me arrastei mais alguns metros até o ponto de ônibus, larguei minhas sacolas no chão, sentei e esperei. No frio. Já era uma e pouca da tarde e eu começava a sentir fome.
Dez ou quinze minutos depois apareceu meu ônibus verde para me salvar. Com dificuldade entrei, aloquei as sacolas em algum canto e sentei, por alguns minutos até chegar de volta no Manor Park. Quando chegamos, minha salvação: dois brasileiros conhecidos se ofereceram para levar minhas sacolas até o meu prédio. Subiram as escadas comigo e tudo. Fiquei muito grata e eles se despediram.
Guardei as compras e depois de toda essa canseira, não tive coragem de cozinhar algo muito complicado. Fiz um risoto de cogumelos de micro-ondas e comi com ovo mexido. Lavei a louça, voltei pro quarto e dormi o resto da tarde, profundamente.
Nota mental: comprar um carrinho de feira ou levar amigos para fazer as compras da próxima vez.
Hahahahaha! Tadinha, fiquei imaginando a cena, suas mãos quase congelando com o vento frio, e o peso das sacolas te deixando com menos mobilidade ainda, visto o peso das roupas de inverno.
ResponderExcluirCaramba, compre um carrinho para ontem!
Ainda bem que vc está com bastante dinheiro por aí, porque por mais que seja um projeto de intercâmbio gratuito para os brasileiros, quem é totalmente desprovido de verba não conseguiria dar conta de tantos gastos!
Ou vcs ganham algum dinheiro no projeto?
O que deve dar mais pena é ver o dinheiro minguando, quando convertido para as Libras esterlinas. =T
E sim, ainda bem que vc encontrou brasileiros solícitos no caminho! \o/
Abraços!
Paz e Luz!
Bom, não sei o que você chama de bastante dinheiro, mas temos sim uma bolsa do governo, modesta, mas que está dando conta por enquanto. Também recebemos um dinheiro extra para comprar laptop ou tablet como parte do material didático (chique).
ExcluirMas sim, quem não tem grana nenhuma, mesmo com a bolsa, deve sofrer, porque muita coisa a gente tem que pagar do próprio bolso, como seguro viagem e outras despesas que toda viagem acarreta: mala, roupa de frio, bota, etc.
Olha, não sei se seria o seu caso (aliás, você se formou em quê?) mas você sabia que o Ciência sem Fronteiras também oferece bolsas de mestrado e doutorado? Se interessar, dá uma pesquisada depois, às vezes vale a pena pra você. ;)